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28/11/2025

A Política À Luz Das Escrituras: Fundamentos Etimológicos, Históricos, Bíblicos E Teológicos Do Governo


Autor: Ev. Paulo Nascimento

Ministro da COMADAL / CGADB

Teólogo e Articulista

RESUMO

O presente artigo analisa o conceito de política sob a perspectiva bíblica, desde sua origem etimológica grega até sua manifestação histórica nas estruturas de governo do Antigo e Novo Testamentos. A pesquisa destaca os fundamentos teocráticos de Israel, a crítica profética ao poder, o ensino político de Jesus, a ética governamental apostólica e os princípios teológicos que norteiam a política aprovada por Deus. Incluem-se contribuições patrísticas (Agostinho, João Crisóstomo) e históricas (Reforma protestante), a fim de demonstrar que a Escritura não legitima ideologias partidárias, mas estabelece princípios perenes de justiça, autoridade, serviço e responsabilidade social.

Palavras-chave: Política; Bíblia; Governo; Teocracia; Justiça; Autoridade; Igreja e Estado.

1. INTRODUÇÃO

A política, em nosso tempo, tornou-se um dos temas mais sensíveis e polarizadores no ambiente público e, infelizmente, também no contexto eclesiástico. Muitos crentes, escandalizados com escândalos de corrupção, concluem que “crente não deve mexer com política”. Outros, por sua vez, absolutizam a dimensão política, confundindo o Reino de Deus com projetos partidários transitórios.

A Escritura, entretanto, apresenta outra perspectiva. Ainda que não seja um manual de “ciência política” nem de “estratégia eleitoral”, a Bíblia trata, de maneira consistente, de governos, leis, autoridades, justiça, direitos, deveres, profetas, reis, impérios e submissão civil. Ou seja, a Palavra de Deus não ignora a política; antes, a submete ao crivo da soberania divina, da ética do Reino e da justiça de Deus.

O objetivo deste artigo é examinar a política à luz das Escrituras, começando pela análise etimológica do termo, passando pela experiência político-teológica de Israel, pelo ensino de Jesus e dos apóstolos, e culminando numa síntese dos princípios bíblicos da política que Deus aprova. A partir disso, pretende-se oferecer subsídios para líderes cristãos, teólogos e igrejas que desejam se posicionar biblicamente diante das demandas da vida pública, sem cair nem no apoliticismo omisso, nem na idolatria política.

2. ANÁLISE ETIMOLÓGICA (“ENERGÉTICA”) DO TERMO POLÍTICA

2.1 Origem da Palavra

A palavra “política” provém do grego πολιτική (politiké), expressão que designa a arte ou ciência de governar a polis (cidade). A polis, na Grécia clássica, não era apenas um conglomerado urbano, mas o espaço integral da vida:

• Jurídica

• Econômica

• Militar

• Cultural

• Religiosa

Da mesma raiz surgem:

• πολίτης (polités) – cidadão, aquele que participa da vida pública;

• πολιτεία (politeía) – constituição, forma de governo, regime político, modo de vida comunitária.¹

Dessa forma, desde sua origem, política não significa, em essência, intriga ou corrupção, mas administração da vida em comum, ordenamento da convivência, definição de estruturas que viabilizam o bem-estar coletivo.

¹ ARISTÓTELES. Política, Livro I–III. O filósofo define o homem como “animal político” (zoon politikon), indicando sua vocação natural para a vida em sociedade, regida por leis e formas de governo.

2.2 Sentido Energético: Política como Força Organizadora da Vida Coletiva

Do ponto de vista “energético-conceitual”, podemos descrever a política como a força organizadora da vida em comunidade. É por meio dela que se estabelecem as regras de convivência, as estruturas de poder, os mecanismos de proteção ao fraco e a regulação dos conflitos.

Nesse contexto entram cinco grandes elementos, que são também categorias bíblicas:

LEIS – O QUE SÃO?

As leis são normas objetivas que regem a conduta social, definindo o que é permitido, proibido ou obrigatório. Em termos bíblicos, a lei não nasce apenas de um consenso social, mas da revelação divina: no Sinai, Deus entrega não apenas mandamentos espirituais, mas um verdadeiro corpo jurídico, que inclui:

• Normas civis (Êx 21–23)

• Normas penais

• Normas cerimoniais

• Normas de saúde pública e convívio social

A lei, na perspectiva bíblica, cumpre funções:

1. Revelar o caráter de Deus – santo, justo e reto;

2. Organizar a sociedade – evitando a anarquia (“cada um faz o que quer”);

3. Conter o avanço do pecado – colocando barreiras externas contra a maldade do coração humano.

Paulo resume:

“De maneira que a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rm 7.12).

Portanto, toda política que despreza a lei justa, ou que manipula a lei em favor de privilegiados, se afasta do modelo bíblico.

DIREITOS – O QUE SÃO?

Os direitos são as garantias reconhecidas ao indivíduo, assegurando sua dignidade e proteção frente ao abuso do poder e à violência social. Embora a terminologia jurídica moderna seja posterior, o conceito de direitos já está presente na Bíblia:

• Direito do estrangeiro de não ser oprimido (Êx 22.21);

• Direito da viúva e do órfão ao cuidado e proteção (Dt 24.17–21);

• Direito do trabalhador ao salário justo e pontual (Lv 19.13).

Os profetas denunciam justamente a violação de direitos:

“Buscai a justiça, ajudai o oprimido, fazei justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas” (Is 1.17).

Dessa forma, direitos não são concessões generosas do governante, mas exigências da justiça divina aplicadas à vida social.

DEVERES – O QUE SÃO?

Se há direitos, há também deveres. Deveres são as obrigações morais, espirituais e civis que cada pessoa tem para com Deus, com o próximo e com a sociedade organizada. A Bíblia apresenta deveres em três direções:

1. Deveres para com Deus – adoração, obediência, fidelidade (Dt 6.5);

2. Deveres para com o próximo – amor, verdade, honestidade, solidariedade (Lv 19.18; Rm 13.8–10);

3. Deveres para com o Estado – pagamento de tributos, respeito à autoridade, colaboração com a ordem (Rm 13.6–7).

Paulo declara:

“Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; [...] a quem honra, honra” (Rm 13.7).

Assim, uma política bíblica não é apenas “cobrança de direitos”, mas também formação de cidadãos conscientes de seus deveres.

JUSTIÇA – O QUE É?

A justiça é talvez o conceito mais central na relação entre política e Bíblia. No hebraico, tsedaqah e mishpat expressam justiça como:

• Retidão moral;

• Equidade social;

• Equilíbrio nas decisões judiciais;

• Defesa do pobre contra o opressor.

Justiça, na Escritura, não é mera formalidade legal, mas alinhamento da sociedade com o caráter de Deus:

“Porque o Senhor ama a justiça” (Sl 37.28).

“Corra o juízo como as águas e a justiça como um ribeiro perene” (Am 5.24).

Sem justiça, toda a estrutura de leis, direitos e deveres se torna apenas aparato de legitimação da injustiça.

DISTRIBUIÇÃO DE PODER – O QUE É?

A distribuição de poder diz respeito a como a autoridade é repartida, limitada e fiscalizada. Ao contrário da concentração absoluta nas mãos de um tirano, a Bíblia mostra modelos de descentralização:

• Em Êxodo 18, Moisés, orientado por Jetro, divide responsabilidades entre chefes de 10, 50, 100 e 1.000;

• No livro de Juízes, embora haja desequilíbrios, percebemos lideranças regionais;

• Na monarquia, o rei deve ouvir sacerdotes, profetas e conselheiros.

Esse equilíbrio mostra que Deus não aprova um poder arbitrário, isolado, sem prestação de contas. Ao contrário, a boa política bíblica distribui funções, impõe limites e estimula a responsabilidade compartilhada.

3. A POLÍTICA NO ANTIGO TESTAMENTO

3.1 A Teocracia: Deus como Chefe de Estado

No início da história de Israel, temos a teocracia, em que Deus é apresentado como Rei, Legislador e Juiz:

“Porque o Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso Legislador; o Senhor é o nosso Rei; Ele nos salvará” (Is 33.22).

Aqui se encontram, numa única pessoa divina, as funções que hoje chamamos de:

• Poder Judiciário (Juiz);

• Poder Legislativo (Legislador);

• Poder Executivo (Rei).

Isso indica que, no plano original, o governo que agrada a Deus é aquele totalmente submisso à Sua Vontade e à Sua Lei. A Lei de Moisés não era apenas código religioso, mas incluía:

• Normas agrárias;

• Normas trabalhistas;

• Normas de saúde pública;

• Normas de justiça criminal.

Portanto, a política de Israel, em sua origem, era espiritual e civil ao mesmo tempo, demonstrando que Deus se interessa pelas estruturas concretas da vida social.

3.2 O Período dos Juízes: Crise Política e Moral

Após a morte de Josué, inicia-se o período dos Juízes, marcado por ciclos de pecado, opressão, arrependimento e libertação. A síntese desse momento é dramática:

“Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21.25).

A ausência de governo estável e de autoridade reconhecida gera:

• Fragmentação tribal;

• Anarquia moral;

• Violência interna;

• Vulnerabilidade externa diante dos inimigos.

Politicamente, esse período nos ensina que a omissão da liderança e a crise de autoridade produzem caos social. Não basta rejeitar a tirania; é preciso que haja governo justo, estruturado e responsável.

3.3 A Monarquia: O Primeiro Grande Debate Político da Bíblia

Em 1 Samuel 8, Israel exige um rei “como todas as nações”. O pedido é político, mas traz implicações espirituais:

• O povo deseja segurança militar;

• Admira a organização estatal dos vizinhos;

• Mas, ao mesmo tempo, rejeita o modelo teocrático.

Deus permite, mas adverte, por meio de Samuel, sobre os riscos:

• Recrutamento compulsório;

• Cobrança pesada de tributos;

• Apropriação de propriedades;

• Uso egoísta do poder.

O discurso de Samuel pode ser lido como um manifesto bíblico contra o abuso do Estado. Com Saul, Davi e Salomão, vemos:

• A consolidação de um Estado forte;

• O florescimento de uma administração organizada;

• Mas também as tentações do poder: orgulho, luxo, exploração.

A divisão do reino após Salomão revela que quando a política se descola da fidelidade a Deus e da justiça social, entra em colapso estrutural.

3.4 Profetas: Consciência Moral e Política de Israel

Os profetas do Antigo Testamento não eram meros anunciadores de bênçãos futuras; eles atuavam como uma espécie de “consciência crítica do poder”. Denunciavam:

• Corrupção nas cortes (Is 1.23: “os teus príncipes são companheiros de ladrões”);

• Manipulação da justiça (Mq 3.11: “os chefes julgam por suborno”);

• Acúmulo de riquezas às custas dos pobres (Am 2.6–7).

Amós, Miquéias, Isaías, Jeremias e outros deixam claro que Deus observa o comportamento dos governantes e julga as nações. Em termos de teologia política, os profetas estabelecem o princípio de que nenhum poder está acima da Lei de Deus, e todo governo será responsabilizado perante Ele.

4. A POLÍTICA NO NOVO TESTAMENTO

4.1 O Estado Romano: Contexto Político de Jesus e da Igreja Primitiva

Quando Jesus nasce, o cenário político é dominado pelo Império Romano. Roma representa:

• Centralização de poder;

• Sistema tributário pesado;

• Estrutura militar presente;

• Certa estabilidade jurídica (a famosa Pax Romana), porém baseada na força.

Dentro desse contexto, surgem grupos político-religiosos em Israel:

• Fariseus – zelosos da lei, com forte influência religiosa;

• Saduceus – elite sacerdotal, com forte vínculo com o poder político;

• Zelotes – resistência armada, de cunho revolucionário;

• Herodianos – grupo ligado à dinastia de Herodes, colaboracionista com Roma.

Jesus movimenta-se nesse cenário sem se alinhar a nenhuma facção. Seu Reino não é “deste mundo” no sentido de não ser produto de compromissos com sistemas políticos corrompidos, mas, ao mesmo tempo, impacta profundamente a ética pública.

4.2 O Ensinamento Político de Jesus

Jesus não se apresenta como líder partidário, mas estabelece princípios com profundas consequências políticas:

“Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21).

Aqui Ele afirma:

1. Legitimidade limitada do Estado – “o que é de César”;

2. Supremacia absoluta de Deus – “o que é de Deus”.

Em Marcos 10.42–45, Jesus contrasta o modelo pagão de poder (“dominam, oprimem”) com o modelo do Reino:

“Quem quiser tornar-se grande entre vós será esse o que vos sirva.”

Com isso, Ele institui a teologia do poder-serviço: o verdadeiro governante é aquele que serve. Tal princípio confronta:

• Autoritarismo;

• Clientelismo;

• Uso do Estado para privilégios pessoais ou de grupos.

Jesus também denuncia abusos de Herodes, dos fariseus e de autoridades religiosas, deixando claro que o Reino de Deus não legitima estruturas opressoras, mesmo quando revestidas de linguagem religiosa.

4.3 A Igreja, o Império e a Tensão Obediência–Resistência

No livro de Atos e nas epístolas, a igreja primitiva aprende a viver dentro de um Estado pagão, sem se corromper nem se isolar:

• Paulo apela à sua cidadania romana para exigir direitos (At 22.25);

• Em Romanos 13, ele reconhece que a autoridade é “ministra de Deus para o teu bem”;

• Em 1 Pedro 2.13–17, os cristãos são exortados a se submeter “a toda instituição humana, por causa do Senhor”.

Contudo, quando o Estado exige algo que contraria a fé, a resposta é firme:

“Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).

Temos, então, o equilíbrio bíblico:

• Obediência às leis justas;

• Respeito à autoridade;

• Mas resistência ética quando o poder se coloca contra Deus.

Essa tensão acompanha toda a história da igreja, desde as perseguições romanas até as reflexões modernas sobre liberdade religiosa.

5. CONTRIBUIÇÕES PATRÍSTICAS E HISTÓRICAS PARA UMA TEOLOGIA CRISTÃ DA POLÍTICA

5.1 Agostinho de Hipona (354–430): A Cidade de Deus e a Cidade dos Homens

Em A Cidade de Deus, Agostinho distingue entre:

• Cidade de Deus – formada pelo amor a Deus acima de todas as coisas;

• Cidade dos homens – formada pelo amor desordenado de si mesmo.

Para ele, o Estado, quando desprovido de justiça, torna-se apenas “uma grande quadrilha de ladrões”.² Agostinho não despreza o Estado, mas afirma que:

• Sua função é conter o mal;

• Administrar a justiça;

• Manter a ordem social.

A política, portanto, tem valor relativo, nunca absoluto. Ela é instrumento; o fim último é a glória de Deus e a salvação das almas.

² AGOSTINHO. De Civitate Dei, Livro IV.

5.2 João Crisóstomo (347–407): Responsabilidade Moral dos Governantes

João Crisóstomo, conhecido como “boca de ouro”, pregava com firmeza sobre:

• Justiça social;

• Dever dos ricos;

• Responsabilidade dos governantes diante de Deus.

Para ele, o governante é um “pastor civil” que deverá prestar contas a Deus pelo modo como tratou os pobres, órfãos e viúvas. Sua pregação revela que, já nos primeiros séculos, a igreja percebia a dimensão espiritual da função pública.

5.3 A Reforma Protestante: Lutero, Calvino e a Esfera Pública

Na Reforma, Martinho Lutero enfatiza a doutrina dos dois reinos:

• Reino espiritual – regido pela Palavra e pelo Evangelho;

• Reino temporal – regido pela lei e pela espada.

Para Lutero, o cristão vive em ambos os reinos e tem responsabilidades em cada um.

João Calvino, por sua vez, desenvolve uma visão mais estruturada da política, reconhecendo o Estado como:

• Dom de Deus para promover justiça;

• Guardião da ordem pública;

• Agente de proteção dos fracos.

A desobediência civil, para Calvino, só se justifica em casos extremos, quando o Estado se torna frontalmente oposto à lei de Deus.

5.4 Perspectivas Posteriores: Kuyper e a Soberania das Esferas

Séculos depois, Abraham Kuyper afirma que “não há um centímetro quadrado em toda a criação sobre o qual Cristo não diga: ‘É meu!’”. Ele desenvolve o conceito de soberania das esferas, segundo o qual:

• Família

• Igreja

• Estado

• Economia

• Cultura

têm competências próprias, mas todas debaixo da soberania de Cristo. Essa visão reforça que a política é importante, porém não absoluta, sendo apenas uma esfera entre outras.

6. PRINCÍPIOS BÍBLICOS DA POLÍTICA APROVADA POR DEUS (COMENTADOS)

A partir do percurso bíblico e histórico, podemos sintetizar alguns princípios fundamentais:

6.1 Toda Autoridade Vem de Deus

Romanos 13.1 afirma que “não há autoridade que não venha de Deus”. Isso não significa que Deus aprove cada ato dos governantes, mas que:

• A instituição da autoridade é boa;

• A anarquia, por sua vez, é contrária à vontade divina.

Portanto, o cristão reconhece a legitimidade do governo enquanto estrutura querida por Deus para conter o mal e promover o bem comum.

6.2 O Governante Deve Servir, e Não Oprimir

Jesus estabelece o paradigma: quem quiser ser o maior deve ser servo (Mc 10.42–45). Aplicado à política:

• O governante cristão é chamado a servir a população, não a enriquecer às suas custas;

• A autoridade não é privilégio, mas cruz, responsabilidade e prestação de contas.

6.3 A Justiça é a Base do Governo Justo

Sem justiça, o Estado se torna aparelho de opressão. A Bíblia insiste:

• “O trono se firma com justiça” (Pv 16.12);

• “Fazei justiça ao pobre e ao necessitado” (Jr 22.16).

A política aprovada por Deus é aquela que promove justiça distributiva, retributiva e restaurativa, evitando favoritismos, clientelismos e parcialidades.

6.4 Corrupção é Sempre Condenada

Desde o Antigo Testamento, a corrupção é denunciada:

• Suborno (Êx 23.8);

• Venda de sentenças (Mq 3.11);

• Roubo institucionalizado (Is 1.23).

No plano espiritual, a corrupção revela um coração que substituiu o temor de Deus pela idolatria do dinheiro e do poder. Politicamente, ela destrói a confiança social, aprofunda desigualdades e perverte o direito.

6.5 O Povo Tem Responsabilidade Espiritual e Cívica

O povo não é apenas receptor passivo de decisões. Biblicamente:

• Deve orar pelas autoridades (1 Tm 2.1–2);

• Deve agir com honestidade em sua vida profissional, econômica e social;

• Deve participar de forma responsável nas esferas que lhe são acessíveis (voto, participação social, fiscalização, diálogo).

A igreja não é chamada a ser massa de manobra, mas consciência moral da nação.

6.6 Nenhum Governo Pode Substituir Deus

Quando o Estado pretende ocupar o lugar de Deus, temos uma forma moderna de idolatria. Em Apocalipse, a figura da besta política mostra a tentação do poder de:

• Controlar a consciência;

• Exigir culto;

• Perseguir os fiéis.

A lealdade suprema do cristão é ao Cordeiro, não a qualquer sistema político. O Estado é instrumento; Deus é Senhor.

6.7 O Poder Legítimo Protege os Fracos

Ao longo da Bíblia, Deus se revela como:

• Pai dos órfãos;

• Juiz das viúvas;

• Defensor do estrangeiro.

Logo, a política que agrada a Deus é aquela que:

• Protege vulneráveis;

• Garante o mínimo de dignidade a todos;

• Combate estruturas que perpetuam miséria e exclusão.

7. CONCLUSÃO: QUE TIPO DE POLÍTICA A BÍBLIA APROVA?

À luz de tudo o que foi exposto, podemos afirmar que a Bíblia não aprova partidos, ideologias ou sistemas específicos como absolutos, mas sanciona princípios que devem nortear qualquer estrutura de governo:

• Política baseada na justiça – conforme Miquéias 6.8: praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus;

• Política que protege vulneráveis – conforme o clamor dos Salmos e dos profetas;

• Política ética e transparente – onde a verdade prevalece sobre a mentira e o interesse público sobre o privado;

• Governantes como servidores – imitando o modelo de serviço do próprio Cristo;

• Política submissa à soberania de Deus – reconhecendo que toda autoridade é relativa e prestará contas diante do Justo Juiz;

• Cidadãos íntegros – que vivem sua fé no cotidiano, votando, participando, fiscalizando e agindo com temor do Senhor.

Em síntese: a Bíblia não é um panfleto partidário, mas é o fundamento moral e espiritual para a construção de uma sociedade justa, humana e temente a Deus. Quando governantes e governados se dobram diante da Palavra, a política deixa de ser apenas “jogo de interesses” e se torna instrumento de serviço, justiça e manifestação da graça comum de Deus na história.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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ARISTÓTELES. Política. Tradução de Mário da Gama Kury. 5. ed. Brasília: Editora UnB, 2017.

BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Corrigida (ARC). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Atualizada (ARA). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.

CALVINO, João. As institutas da religião cristã. Tradução de Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

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DURANT, Will. História da civilização – César e Cristo. Rio de Janeiro: Record, 2001.

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LUTERO, Martinho. Da autoridade secular: até onde se lhe deve obediência. São Leopoldo: Sinodal, 2004.

MOLTMANN, Jürgen. Teologia da esperança. São Paulo: Loyola, 2003.

RICHARDSON, Alan. Introdução à teologia do Antigo Testamento. São Paulo: ASTE, 2010.

SCHREINER, Thomas R. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2016.

STOTT, John. Cristianismo equilibrado. Viçosa: Ultimato, 2009.

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