Neste ano de 2025, a Convenção Estadual da Assembleia de Deus em Alagoas terá como homenageada uma das figuras mais marcantes da história pentecostal no estado: irmã Damiana da Silva, ou como ficou carinhosamente conhecida entre os pioneiros da fé, irmã Zóia. Mulher negra, solteira e de origem humilde, sua trajetória se confunde com as próprias raízes da igreja em solo alagoano.
Nascida em Maceió no ano de 1890, apenas dois anos após a abolição da escravatura no Brasil, Damiana era filha de João Manoel da Silva e Maria José da Silva. Cresceu nas imediações da região lagunar da capital, local que, anos mais tarde, se tornaria berço da Assembleia de Deus em Alagoas. Sua epiderme negra e descendência de ex-escravizados não impediram que o céu a tocasse com poder e propósito.
Foi em maio de 1915 que a jovem Damiana, então com cerca de 25 anos, teve seu encontro decisivo com o Evangelho, por meio da pregação do missionário sueco Gunnar Vingren, um dos fundadores da Assembleia de Deus no Brasil. Tocada por Deus em uma das pregações realizadas nos bairros periféricos de Maceió, ela entregou sua vida a Cristo, um passo que a colocaria entre os primeiros convertidos pentecostais do estado.
Poucos meses depois, Vingren deixou Maceió, mas prometeu enviar um pastor para cuidar do pequeno rebanho de seis crentes. A promessa se cumpriu em 21 de agosto do mesmo ano, com a chegada do missionário Otto Nelson. Quatro dias depois, em um culto histórico na casa do pescador Balbino Gomes, no Trapiche da Barra, a Assembleia de Deus em Alagoas foi oficialmente iniciada. Foi ali, naquela reunião, que Damiana foi batizada com o Espírito Santo em Alagoas, evidenciado pelo falar em línguas.
Inflamada pelo Espírito, Damiana não se conteve. Iniciou uma trajetória evangelística incansável, percorrendo, a pé e de canoa, os povoados da região Norte de Alagoas: Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Passo de Camaragibe, Porto da Rua. Em todas essas localidades, seu trabalho desbravador estabeleceu núcleos de fé antes mesmo da chegada de igrejas organizadas. Ali, orava, ensinava, visitava, discipulava e via milagres acontecerem, curas, libertações, visões e profecias que ainda hoje são lembradas por famílias inteiras.
Foi nas estradas da fé que se tornou conhecida como “irmã Zóia”, nome pelo qual era chamada até mesmo pelos missionários suecos Otto Nelson e sua esposa, Adina. Zóia era um apelido que traduzia afeto e respeito entre os crentes. Não tinha título formal, mas sua autoridade espiritual a fazia influente. Pastores ouviam seus conselhos, aceitavam suas indicações e viam nela uma verdadeira intercessora do povo.
A história da irmã Zóia é pontuada por milagres que atravessaram gerações por meio da tradição oral. Em Porto da Rua, escapou de um atentado quando um boi bravo foi solto para matá-la. Ao erguer sua Bíblia e gritar “Olha a Bíblia, boi!”, o animal caiu morto. Em Maragogi, orou por uma menina surda que passou a ouvir. Em Japaratinga, uma coluna de fogo foi vista durante um culto à beira-mar. Em Passo de Camaragibe, revelou o nome e o segredo de um jovem que tentara o suicídio. Em São Miguel dos Milagres, teve uma visão de uma serpente debaixo de uma casa pastoral, que no dia seguinte foi encontrada exatamente onde ela disse.
Damiana nunca se casou. Viveu integralmente para a obra. Cooperava com os missionários, ajudava no lar de Otto Nelson, cuidava dos filhos da irmã Adina e, ao mesmo tempo, evangelizava o sertão. Nunca se envolveu em escândalos. Viveu uma vida de integridade, sendo modelo para outras mulheres, missionárias e líderes espirituais que viriam depois.
Sua influência foi tamanha que chegou a ter liberdade para indicar obreiros ao ministério, fato raríssimo para uma mulher, sobretudo em sua época. Ainda assim, nunca buscou holofotes, sua vida era marcada pela humildade, oração e sensibilidade espiritual.
Faleceu com cerca de 90 anos, em Maceió, deixando um legado que ultrapassa registros escritos. Seu nome está gravado na história, na memória e no coração da Assembleia de Deus em Alagoas.
Em 2015, por ocasião do centenário da igreja, Damiana da Silva foi oficialmente reconhecida como uma das fundadoras da Assembleia de Deus no estado. A Universidade Federal de Alagoas (UFAL) também mencionou seu nome em estudo acadêmico sobre a vocação pastoral e o protagonismo feminino invisibilizado na história da igreja.
Agora, em 2025, 110 anos após o início do trabalho que ela ajudou a sustentar, a igreja a honra como personagem central da Convenção Estadual, não apenas pela cronologia, mas pela força espiritual que carregou e transmitiu.
“E muitos que são os primeiros serão os últimos; e muitos que são os últimos serão os primeiros.” (Mateus 19.30)
Assim foi Damiana da Silva — Zóia para os íntimos da fé — uma mulher comum que se tornou extraordinária, não pelo poder dos cargos, mas pelo poder do Espírito Santo. Seu legado continua vivo nas histórias, nos milagres e, sobretudo, nas vidas transformadas por sua coragem e fé.
Da Redação/AD Alagoas
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