ÁREAS DE INTERESSE: Teologia Bíblica; Teologia Histórica; Teologia Sistemática; História da religião; Antropologia Bíblica; Exegese e Hermenêutica;
Você ja parou se perguntando, quantos anos a humanidade tem na terra? desde o primeiro homem que pisou neste planeta, quantos anos se passaram ate os dias atuais? Para milhões de pessoas ao longo dos séculos, a Bíblia não é apenas um texto espiritual, mas uma crônica histórica que traça a trajetória do mundo desde sua criação até os dias de hoje. A partir de suas genealogias e cronologias, estudiosos construíram uma visão intrigante: a história da humanidade teria cerca de 6.000 anos. Mas como essa ideia nasceu? E o que pensadores, de historiadores judeus a cientistas modernos, disseram sobre ela? Vamos mergulhar nessa narrativa fascinante, que une teologia, história e uma pitada de controvérsia, para explorar o que significa enxergar o passado sob a lente bíblica.
A Bíblia como Espelho do Tempo
No cerne dessa visão está o livro de Gênesis, que, com suas genealogias detalhadas, oferece uma linha do tempo que muitos consideram literal, inclusive nós pentecostais assembleianos que temos as escrituras sagradas por infalíveis e inerrantes. De Adão a Noé, de Abraão a Moisés, as Escrituras traçam uma sequência de gerações que, segundo estudiosos como Henry M. Morris e John C. Whitcomb, aponta para a criação do homem por volta de 4.000 a.C. (Morris; Whitcomb, 2003, p. 115). Somando os dois milênios da era cristã, chegamos a uma história humana de aproximadamente 6.000 anos. Essa cronologia, baseada em textos como Gênesis 5 e 11, é mais do que uma curiosidade teológica: para seus defensores, é uma chave para entender o passado.
Mas será que um texto sagrado pode ser uma fonte histórica confiável? Para nós cristãos, que possuímos o texto bíblico como inerrante e plenamente inspirado, a Bíblia não é apenas inspirada espiritualmente, mas também um registro fidedigno dos primórdios da humanidade. Essa perspectiva, no entanto, não está isenta de debates. Críticos, inclusive dentro da própria cristandade – capitaneados principalmente pelos teólogos da equivocada vertente liberal, questionam a precisão das genealogias bíblicas, apontando que elas podem ter lacunas ou propósitos teológicos que transcendem a mera contagem de anos (seriam meramente idealistas ou simbólicas, nunca literais). Mesmo assim, de maneira assertiva, a tradição judaico-cristã, por séculos, tem sustentado a leitura literal do relato do gênesis e por consequente de sua genealogia, assim como a literalidade de todo o relato bíblico, influenciando desde historiadores antigos até pensadores modernos.
Flávio Josefo: A Ponte Entre Dois Mundos
No primeiro século, o historiador judeu Flávio Josefo (37–100 d.C.) assumiu a tarefa de explicar a história hebraica ao público greco-romano. Em sua obra Antiguidades Judaicas, ele apresenta o relato do Gênesis como um registro histórico, narrando a sucessão de gerações desde Adão até sua própria era (Josefo, 2001, p. 37–42). Para Josefo, os patriarcas bíblicos eram figuras reais e a criação do mundo, um evento literal, não uma metáfora. Sua obra é uma ponte fascinante entre a tradição bíblica e a historiografia clássica, mostrando como os hebreus viam sua história como parte do tecido do mundo antigo.
Júlio Africano e a Cronologia Cristã
No segundo século, Júlio Africano (c. 160–240 d.C.) deu um passo além ao sistematizar a cronologia bíblica. Em sua obra Chronographiai, parcialmente preservada por Eusébio de Cesareia, ele calcula a criação do mundo por volta de 5.500 a.C. (Eusébio, 1999, p. 24). Essa estimativa lançou as bases para a tradição de uma história humana de 6.000 anos. Embora a obra original tenha se perdido, os fragmentos preservados mostram um esforço meticuloso para alinhar os eventos bíblicos com a história universal.
Eusébio de Cesareia: A História da Salvação
Eusébio de Cesareia (c. 260–339 d.C.), conhecido como o "pai da história eclesiástica", ampliou o trabalho de Africano. Em sua História Eclesiástica e nos Cânones Cronológicos, ele traça paralelos entre reis pagãos e figuras bíblicas, conferindo legitimidade histórica às Escrituras (Eusébio, 1999, p. 20–25). Para Eusébio, a história da humanidade é a história da salvação, começando com Adão e culminando em Cristo. Sua abordagem não apenas reforçou a cronologia de 6.000 anos, mas também integrou a narrativa bíblica ao contexto mais amplo do mundo antigo.
Beda e a Idade Média: Uma Cronologia Coesa
Na Idade Média, Beda, o Venerável (c. 672–735), trouxe nova precisão à cronologia bíblica. Em De Temporum Ratione, ele calcula a criação em 3952 a.C., harmonizando eventos bíblicos e seculares (Beda, 2004, p. 86–92). Sua obra foi amplamente adotada, moldando a visão medieval do tempo e da história. Beda não apenas contava anos, mas via a história como uma narrativa divina, onde cada evento apontava para um propósito maior.
James Ussher: O Relógio da Criação
No século XVII, o arcebispo anglicano James Ussher (1581–1656) produziu uma das cronologias mais famosas da história. Em “Annales Veteris et Novi Testamenti”, ele data a criação em 4004 a.C., com base em análises minuciosas das genealogias bíblicas e fontes extrabíblicas (Ussher, 2003, p. 21–22). Sua datação, publicada em 1650, tornou-se tão influente que foi incluída nas margens de Bíblias inglesas por séculos. Ussher não era apenas um teólogo; era um erudito que buscava alinhar a Bíblia com a história universal.
Isaac Newton: O Gênio e a Cronologia
Até mesmo Isaac Newton (1643–1727), conhecido por suas leis da física, voltou-se para a cronologia bíblica. Em “The Chronology of Ancient Kingdoms Amended”, ele harmoniza dados bíblicos com registros arqueológicos, reafirmando a literalidade do Gênesis (Newton, 2009, p. 15–19). Newton via a Bíblia como uma fonte confiável, mas também buscava corroborá-la com evidências externas, mostrando que até os maiores cientistas da história se fascinavam pelo passado bíblico.
O Criacionismo Moderno: Uma Tradição Viva
No século XX, o criacionismo científico ganhou força com figuras como Henry M. Morris e John C. Whitcomb. Em “The Genesis Flood”, eles defendem a historicidade do relato bíblico, incluindo a cronologia de 6.000 anos (Morris; Whitcomb, 2003, p. 135–142). Atualmente, autores como Floyd Nolen Jones (“Chronology of the Old Testament”, 2005) e Ken Ham (“The Lie”, 2012) continuam essa tradição, argumentando que a Bíblia oferece uma estrutura confiável para entender a história humana.
Um Quadro do Tempo
Para ilustrar como diferentes pensadores abordaram a cronologia bíblica, vejamos um resumo comparativo:
Autor/Historiador |
Estimativa da Criação |
Obra/Contribuição |
Flávio Josefo |
— |
Antiguidades Judaicas (Josefo, 2001) |
Júlio Africano |
5.500 a.C. |
Chronographiai (fragmentos em Eusébio, 1999) |
Eusébio de Cesareia |
5.500 a.C. |
História Eclesiástica e Cânones Cronológicos (Eusébio, 1999) |
Beda, o Venerável |
3952 a.C. |
De Temporum Ratione (Beda, 2004) |
James Ussher |
4004 a.C. |
Annales Veteris et Novi Testamenti (Ussher, 2003) |
Isaac Newton |
4000 a.C. |
The Chronology of Ancient Kingdoms Amended (Newton, 2009) |
Morris & Whitcomb |
6.000 anos |
The Genesis Flood (Morris; Whitcomb, 2003) |
Floyd Nolen Jones |
4004 a.C. |
Chronology of the Old Testament (Jones, 2005) |
Ken Ham |
6.000 anos |
The Lie (Ham, 2012) |
Um Passado que Ainda Fala
A ideia de uma história humana de aproximadamente 6.000 anos, fundamentada na Bíblia, é mais do que uma cronologia: é uma visão de mundo que conecta fé, história e propósito. De Josefo a Newton, de Beda a Ham, essa perspectiva moldou o pensamento de gerações, desafiando-nos a refletir sobre nossas origens. Embora a ciência moderna proponha uma narrativa diferente, com milhões de anos de história, a cronologia bíblica continua a fascinar pela simplicidade e profundidade teológica.
A questão não é apenas quantos anos a humanidade tem, mas a veracidade e a precisão do relato bíblico sobre a humanidade e sua história, e o que suas narrativas revelam sobre quem somos. A Bíblia é um convite a enxergar o passado como parte de um plano maior. E você, o que acha? Está pronto para mergulhar nessa história milenar e descobrir o que ela diz sobre o presente?
Referências
BEDA, O VENERÁVEL. De Temporum Ratione. Tradução e notas de Faith Wallis. Liverpool: Liverpool University Press, 2004.
EUSÉBIO DE CESAREIA. História Eclesiástica e Cânones Cronológicos. São Paulo: Paulus, 1999.
HAM, Ken. The Lie: Evolution/Millions of Years. Green Forest: Master Books, 2012.
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus: Antiguidades Judaicas. 2. ed. São Paulo: CPAD, 2001.
JONES, Floyd Nolen. Chronology of the Old Testament. 5. ed. Green Forest: Master Books, 2005.
MORRIS, Henry M.; WHITCOMB, John C. O Dilúvio de Gênesis. São Paulo: CPAD, 2003.
NEWTON, Isaac. The Chronology of Ancient Kingdoms Amended. New York: Cosimo Classics, 2009.
USSHER, James. The Annals of the World. Tradução. Green Forest: Master Books, 2003.
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