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Artigos

Orisvaldo Wesley Nicácio de Lima
12/04/2025

O Título de Maria e a Controvérsia Cristológica: "Theotókos" ou “Christotókos”

Perspectivas Histórico-Teológicas e a Posição Protestante Pentecostal Assembleiana


Theotókos e a Controvérsia Cristológica: Uma Perspectiva Reformada-Pentecostal


Uma Palavra que Dividiu o Cristianismo

Imagine estar em Éfeso, no ano 431 d.C. O ar da basílica está carregado de tensão, de um lado, Cirilo de Alexandria argumenta com paixão; do outro, Nestório, patriarca de Constantinopla, defende sua visão com igual vigor,  No centro do embate, uma única palavra grega: Theotókos — "Portadora de Deus" ou, mais familiarmente, "Mãe de Deus".

O que parece ser apenas uma questão terminológica, um detalhe linguístico entre teólogos, é, na verdade, o estopim de uma das maiores controvérsias cristológicas da história. E aqui está o ponto crucial: essa controvérsia não é apenas passado distante. as ondas daquele debate ainda ecoam hoje nos corredores da teologia cristã, inclusive (e especialmente) na tradição protestante pentecostal a qual pertencemos.

Por que isso (ainda nos) importa? Porque por trás de uma simples palavra grega está em jogo nada menos que a verdade sobre quem é Jesus Cristo, como Ele nos salva, e como devemos adorá-lo. Para nós, reformados-pentecostais, essas questões não são academicamente abstratas, são questões que definem nossa fé, nossa pregação, nossa experiência com o o Divino.

Neste artigo, vamos caminhar pela história desse debate com clareza e paixão, mas sempre com a Escritura como norte. Preparem-se para compreender como uma controvérsia do século V ainda nos desafia a pensar com lucidez sobre Jesus Cristo e sua obra redentora.


O Pano de Fundo: Concílios Antigos e a Definição de Cristo

Para entender a controvérsia sobre Theotókos, precisamos primeiro compreender o solo histórico em que ela brotou.

O Concílio de Niceia (325 d.C.): A Primeira Grande Batalha

No início do século IV, a Igreja primitiva (em sua era patrística) enfrentava uma crise. Um presbítero chamado Ário negava algo fundamental: a divindade plena de Jesus, para Ário, o Filho não era eterno como o Pai, mas era uma criatura — embora uma criatura excelente, a primeira criação de Deus.

A resposta da Igreja foi clara e vigorosa. O Concílio de Niceia, convocado pelo imperador Constantino em 325 d.C., reuniu bispos de todo o mundo conhecido. Liderados por Atanásio de Alexandria, esses líderes cristãos fizeram uma afirmação que mudaria tudo: Jesus é plenamente Deus, da mesma substância (homoousios) que o Pai!

Essa decisão foi monumental. Não se tratava de abstração teológica. Era a defesa do coração do evangelho: se Jesus não é plenamente Deus, como poderia Ele salvar a humanidade? Como poderia sua morte ter valor eterno?

O Credo Niceno, então formulado, estabelecia que Cristo era "Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, da mesma substância do Pai". Com essa definição, a Igreja primitiva lançava as bases para discussões posteriores sobre a encarnação, contudo, neste contexto do primeiro concilio de Nicéia (325 d.C.) a questão sobre Maria e o título Theotókos ainda não estava explicitamente em pauta.

O Período Entre-Concílios: Preparando o Conflito

Nos cem anos que se seguiram a Niceia, teólogos continuaram refletindo profundamente sobre um mistério central (questionamento pertinente e consequente a afirmação nicena): se Jesus é plenamente Deus, como Ele pode ser plenamente humano? Como essas naturezas se relacionam?

Diferentes escolas teológicas ofereciam respostas distintas. Alguns enfatizavam a humanidade de Cristo (Escola de Antioquia), temendo que ênfase excessiva na divindade pudesse comprometer sua realidade humana. Outros enfatizavam a divindade (Escola de Alexandria), temendo que ênfase excessiva na humanidade pudesse comprometer sua divindade — e, portanto, sua capacidade de salvar.

Essas reflexões, aparentemente abstratas, geraram uma pergunta prática: Como devemos nos referir à mãe de Jesus? Ela havia dado à luz alguém que era simultaneamente plenamente Deus e plenamente homem. Que palavra melhor capturaria isso?

Aqui nasce a necessidade do termo Theotókos.


A Controvérsia Eclode: Theotókos Versus Christotókos

A Posição de Nestório: Uma Recusa Bem-Intencionada

No início do século V, Nestório assumiu o cargo de Patriarca de Constantinopla. Era um homem inteligente, eloquente e profundamente preocupado com a ortodoxia cristã. Porém, sua preocupação o levou a uma conclusão problemática.

Nestório argumentava que o título Theotókos ("Portadora de Deus") era teologicamente impreciso e potencialmente herético. Seu raciocínio era este:

Se Maria é "Mãe de Deus", isso implicaria que a natureza divina de Deus foi gerada, nascida, originada em Maria. Mas Deus — em sua essência divina — é eterno, increado, sem origem. Portanto, Deus não pode ter sido "parido" por ninguém.

A solução de Nestório era propor que Maria fosse chamada de Christotókos , ou "Portadora de Cristo" ou ainda "Mãe de Cristo", e não "Mãe de Deus", dessa forma, segundo ele, evitava-se o absurdo teológico de sugerir que Deus teve uma mãe humana.

À primeira vista, o argumento parece razoável — até lógico. Mas aqui jaz o problema.

A Crítica de Cirilo: Defendendo a Unidade de Cristo

Cirilo de Alexandria via em Nestório algo muito mais perigoso do que uma questão semântica, para Cirilo, com razão, rejeitar Theotókos significava dividir Cristo.

Eis seu argumento: Jesus Cristo não é duas pessoas (uma divina e outra humana) unidas externamente. Cristo é uma única pessoa com duas naturezas! Desde sua concepção no ventre de Maria, a pessoa que estava sendo formada era o Deus-Homem, o Verbo eterno encarnado!

Portanto, quando Maria deu à luz, ela não deu à luz apenas a "parte humana" de Jesus, enquanto sua "parte divina" estava alhures. Ela deu à luz a Cristo inteiro — plenamente divino e plenamente humano, em uma única pessoa.

Rejeitar Theotókos em favor de Christotókos sugeria que poderia haver separação entre as naturezas, que talvez a divindade e humanidade de Jesus fossem como dois elementos justapostos, não verdadeiramente unidos. Para Cirilo, isso era nestorianismo — e o nestorianismo comprometia a encarnação inteira.


O Concílio de Éfeso (431 d.C.): A Decisão da Igreja

O conflito não se resolveria por cartas ou debates privados. A Igreja precisava falar, e o fez.

O Concílio de Éfeso, reunido em 431 d.C., foi um confronto dramático. Cirilo, que presidia, não hesitou. Condenou a posição nestoriana e afirmou solenemente que Maria era verdadeiramente Theotókos — porque havia dado à luz a Cristo, que é simultaneamente Deus e homem em uma única pessoa.

Como resultado, Nestório foi deposto, suas obras foram queimadas, sua memória foi condenada.

Com essa decisão, o Concílio de Éfeso consolidou a doutrina da "união hipostática" — um termo técnico que significa simplesmente isto: em Jesus, a natureza divina e a natureza humana estão unidas em uma única pessoa (hypostasis), de modo inseparável e sem confusão.

Essa definição seria depois refinada e melhor articulada no Concílio de Calcedônia (451 d.C.), que descreveria Cristo como "verdadeiro Deus e verdadeiro homem", "em duas naturezas, inconfundivelmente, imutavelmente, indivizivelmente, inseparavelmente unidas".

Mas a decisão fundamental havia sido tomada: Theotókos era correto. Christotókos era insuficiente e perigoso.

O Que Estava Em Jogo: Além das Palavras

Para compreender por que esse debate importava (e ainda importa), precisamos cavar mais profundamente, não era apenas questão de linguagem, havia (e há) implicações teológicas profundas que tocavam o coração da fé cristã.


A Unidade de Cristo: O Coração da Questão

A primeira implicação era cristológica: Se Cristo é dividido em "parte divina" e "parte humana" (duas realidades separadas) como poderia Ele ser nosso verdadeiro Salvador?

Pense assim: para que um sacrifício seja válido para toda a humanidade, quem o oferece deve ser plenamente representativo de toda a humanidade. Deve ser totalmente homem, mas também deve possuir valor infinito, capacidade infinita de interceder, o que requer ser totalmente Deus.

Se a natureza divina e humana não estivessem verdadeiramente unidas em Cristo, se fossem como duas pessoas diferentes coabitando um corpo, então seu sacrifício seria questionável. Como alguém "dividido" poderia ser o mediador perfeito entre Deus e humanidade?

Aqui está por que Theotókos importava: afirmar que Maria era portadora de Deus era afirmar que em Cristo, Deus e homem estavam verdadeira e inseparavelmente unidos.

A Salvação: Consequências Práticas da Doutrina

Há uma máxima teológica antiga: "O que não é assumido, não é redimido", tal máxima denota que: se Cristo não assumiu nossa natureza humana plenamente (se não se tornou verdadeiramente homem)  então não poderia redenção alcançar plenamente a humanidade.

Da mesma forma, se Cristo não fosse verdadeiramente Deus e verdadeiro homem, seu sacrifício não teria valor eterno. Teria sido apenas a morte de um homem bom, e não a morte do segundo adão (perfeito em essência tal qual Adão pré queda – 1Co.15.45-49) fazendo propiciação pelos pecados do mundo.

O debate sobre Theotókos, portanto, não era mera especulação acadêmica, mas sim, substancial problema prático para a cristologia, soteriologia, teologia bíblica e etc., problematizando a questão de como nos relacionamos com Cristo na fé e recebemos os frutos de sua redenção.

O Papel de Maria: Elevação Indevida Posterior

Embora o debate sobre Theotókos fosse primariamente cristológico, a história mostrou que ele teria consequências para a doutrina sobre Maria. Enquanto a Igreja primitiva honrava Maria como "bendita entre as mulheres" (Lc.1.42) e como sinal do favor divino, a adoção do título Theotókos (especialmente quando mal compreendido ou enfatizado excessivamente) gradualmente abriria portas para desenvolvimentos posteriores.

Na tradição católica medieval, a correção da heresia Christotókos e a afirmação da doutrina Theotókos, findou por se tornar acompanhada de outras doutrinas que não possuem base escriturística, tais quais: a Imaculada Conceição (ideia de que Maria nasceu sem pecado), a Assunção (que ela foi corporalmente levada aos céus), e a concepção de Maria como mediadora ou intercessora especial.

Para nós, reformados-pentecostais, esse desenvolvimentos representam um desvio da Escritura, e é aqui que nossa perspectiva hermenêutica entra em cena.


A Perspectiva Reformada-Pentecostal: Recepção Crítica de Theotókos

O Princípio da Sola Scriptura: Nosso Ponto de Partida

Como herdeiros da Reforma Protestante, nós, pentecostais assembleianos, operamos a partir de um princípio fundamental: a Escritura é a única regra infalível de fé e prática (Sola Scriptura).

Isso não significa que rejeitemos a história ou a tradição de forma arrogante. Estudamos com respeito os grandes concílios da Igreja primitiva e apreciamos a sabedoria daqueles cristãos que nos antecederam, porém, quando a tradição diverge da Escritura, é a Escritura que nos guia.

Aplicando esse princípio a Theotókos, precisamos fazer perguntas simples:

  • Primeira pergunta: O termo Theotókos aparece explicitamente na Bíblia? Não. Nem em grego, nem em nenhuma língua das Escrituras. É uma construção teológica posterior, uma palavra que a Igreja primitiva cunhou para defender a verdade cristológica contra o erro nestoriano.
  • Segunda pergunta: A realidade que Theotókos busca defender (a unidade das naturezas divina e humana em Cristo) está enraizada nas Escrituras? Sim, absolutamente. O Evangelho de João fala do "Verbo se fez carne" (Jo.1.14). Paulo escreve que "nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl.2.9). A realidade está lá.
  • Terceira pergunta: É necessário usar o termo Theotókos especificamente para preservar essa verdade? Aqui a resposta é mais nuançada, o que desenvolveremos nos tópicos a seguir.

O Problema de Christotókos Mal Interpretado

Agora, antes que alguém pense que simplesmente preferimos Christotókos, devemos ser claros: nós também (pentecostais assembleianos) rejeitamos Christotókos se isso implica divisão das naturezas de Cristo.

Se alguém usa Christotókos para sugerir que Maria deu à luz apenas a "humanidade" de Jesus, enquanto a "divindade" estava separada, isso é erro! Tão grave quanto o nestorianismo que Éfeso condenou.

Cristo é indivisível! Não é alguém que tem duas naturezas justapostas, mas alguém que é plenamente divino e plenamente humano, em uma única pessoa! O que fazemos, porém, é escolher uma linguagem bíblica mais clara e direta para expressar essa verdade.

Nossa Alternativa: Foco nas Expressões Bíblicas Diretas

Em vez de usar Theotókos ou Christotókos, nós preferimos as expressões que Cristo e os apóstolos usavam:

  • "Filho de Deus" — afirmação de sua divindade plena (Mc.1.1, Jo.1.34)
  • "Filho do Homem" — afirmação de sua humanidade plena e solidariedade com nossa condição (Mt.9.6, Lc.19.10)
  • "Emanuel, que quer dizer: Deus conosco" (Mt.1.23) — síntese poética da encarnação
  • "Meu Senhor e meu Deus" — confissão de Tomás que captura a dualidade de naturezas (Jo.20.28)

Tais expressões capturam plenamente a verdade cristológica sem correr os riscos que Theotókos posteriormente gerou: a elevação indevida de Maria.


A Questão de Maria: Respeitosa, Mas Bíblica

Aqui nos aproximamos de um ponto sensível. Como pentecostais, como nos relacionamos com a mãe de Jesus?

  • Com respeito: Maria foi verdadeiramente abençoada. Deus a escolheu para uma função única. Ela respondeu com fé ("Faça-se em mim segundo a tua palavra" — Lc.1.38). Ela experimentou privilégio extraordinário.
  • Com clareza bíblica: Mas Maria não é divina, não é co-redentora, não é mediadora ou intercessora especial. As próprias palavras de Maria em Lc.1.47 revelam isso: "O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador". Isso mostra que Maria mesma necessitava de salvação. Ela era uma mulher piedosa, não uma figura semi-divina.
  • Com cristocentrismo: Quando honramos Maria, fazemos porque ela aponta para Cristo. Nossa adoração, devoção, súplica, tudo flui para Cristo, não para Maria! Ela é exemplo de fé, não objeto de fé, ela é mãe terrena de Jesus, não co-redentora ou mediadora celestial.

É precisamente neste ponto que o uso excessivo ou mal-interpretado de Theotókos representa um perigo na tradição católica medieval. Quando se começa a enfatizar que Maria é "Mãe de Deus", o risco espiritual é que a devoção a ela gradualmente adquira uma centralidade que ofusca Cristo.


As Consequências de Uma Má Compreensão: Alertas Para Hoje

Quando refletimos sobre esta controvérsia antiga, não estamos apenas exercitando inteligência histórica, estamos aprendendo lições que ainda ressoam hoje, especialmente para nós que buscamos fidelidade ao Evangelho em uma época de confusão doutrinária.

  • Primeira Consequência: Cristologia Comprometida

Se permitirmos que as naturezas de Cristo sejam divididas, se pensarmos que sua divindade e humanidade são separáveis, ou que operam em esferas distintas, comprometeremos nossa compreensão de quem é Cristo e do que Ele fez por nós.

Um Cristo "dividido" é um Cristo incapaz de ser o mediador perfeito, é um Cristo cuja obra redentora fica questionável, é um Cristo que não pode verdadeiramente interceder por nós diante do Pai.

  • Segunda Consequência: Desvio Mariológico

A elevação de Maria a um papel que a Bíblia não lhe atribui é mais que um desvio — é um perigo espiritual.

Quando pessoas começam a dirigir orações a Maria, a vê-la como "co-redentora", a buscar sua "intercessão especial", estão colocando em Maria o que pertence exclusivamente a Cristo. E isso violenta a Escritura de forma clara.

Paulo escreveu: "Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem" (1Tm.2.5). Essa verdade é inegociável, Maria não é mediadora. Cristo é o único mediador.

A história mostra que esse desvio está intimamente conectado a como Theotókos foi desenvolvido e interpretado na tradição católica medieval. Não estamos sendo injustos ao conectar essas coisas, mas sim, estamos sendo historicamente precisos.


Uma Solução Balanceada: Cristocentrismo Sem Concessões

Como, portanto, nós, os pentecostais assembleianos devemos navegar essas questões?

Nossa Posição: Clara e Consistente

  • Primeira: Reconhecemos e honramos a decisão do Concílio de Éfeso no que tange à defesa da união das naturezas de Cristo contra o nestorianismo. Aquela decisão defendeu uma verdade crucial.
  • Segunda: Compreendemos que Cristo é plenamente Deus e plenamente homem, em uma única pessoa (a "união hipostática" que mencionamos). Isso é não-negociável para nossa fé.
  • Terceira: Preferimos, contudo, usar linguagem bíblica direta — "Filho de Deus", "Filho do Homem", "Emanuel" — para expressar essa verdade, evitando o termo Theotókos por suas associações posteriores com devoção mariana antibíblica.
  • Quarta: Respeitamos Maria como mãe terrena de Jesus, mulher de fé e exemplo, mas rejeitamos categoricamente qualquer ideia de que ela seja co-redentora, mediadora especial, ou objeto de invocação religiosa.
  • Quinta: Mantemos foco exclusivo em Cristo como Senhor, Salvador, Mediador único e fonte de todo poder espiritual, nossa devoção, adoração, confiança, tudo se dirige para Ele e apenas a Ele.

Por Que Essa Posição É Consistente

Essa não é posição contraditória ou ingrata. É, na verdade, a posição mais coerente que se pode tomar.

  • Coerência com a Escritura? Sim! usamos linguagem bíblica, honramos Cristo como único mediador, e evitamos devoluções que não têm apoio escriturístico.
  • Coerência com a história? Sim! reconhecemos a sabedoria da Igreja primitiva em defender Cristo contra o nestorianismo, mesmo que discordemos de desenvolvimentos posteriores.
  • Coerência com a experiência pentecostal? Sim! nossa tradição é caracterizada por foco exclusivo em Cristo, experiência do Espírito Santo, e rejeição de mediadores terrenos na vida espiritual.


Lições Para Hoje: O Que Aprendemos Com o concílio de Éfeso (431 d.C.)?

O debate entre Theotókos e Christotókos não é apenas relíquia arqueológica (ou uma mera curiosidade/excemtricidade)! Ele nos oferece lições vitais para fé hoje.

  • Primeira Lição: A Doutrina Importa

Em um contexto onde muitos cristãos contemporâneos rejeitam qualquer "dogma" ou "formulação doutrinal" (contexto contemporâneo filosófico-comportamental que rejeita verdades absolutas em todos os aspectos da sociedade – modernidade liquida: tudo é efêmero e relativo), precisamos de novo afirmar: a doutrina importa. A forma como compreendemos quem é Jesus determina tudo, nossa salvação, nossa esperança, nossa transformação, nosso fervor espiritual. Não podemos ser indiferentes a questões cristológicas e esperar ter fé viva.

  • Segunda Lição: Cuidado Com Desvios Graduais

A história mostra que Theotókos, embora teologicamente defensável em certo contexto, gradualmente evoluiu em tradições católicas para incluir dogmas absolutamente heréticos e contrários a Bíblia e a ortodoxia cristã (Imaculada Conceição, Assunção, intercessão de Maria) pois não possuem base escriturística. Isso nos ensina: sempre há risco de desvios graduais do evangelho, um passo problemático leva a outro, é por isso que vigilância teológica constante é necessária, “teologia importa”!.

  • Terceira Lição: Proteja a Unidade de Cristo, Mas Uso Linguagem Bíblica

A preocupação genuína de Cirilo em defender a unidade de Cristo era correta. Mas nem sempre precisamos usar precisamente as palavras que a tradição forjou. Podemos (e devemos) usar a linguagem da própria Bíblia, e isso é especialmente importante em contextos ecumênicos ou missões globais, onde termos técnicos podem ser mal-entendidos ou maliciosamente introduzidos como engodo.

  • Quarta Lição: O Cristocentrismo É Marca da Reforma

Quando Lutero e os reformadores rejeitavam a veneração de santos e a elevação de Maria, não o faziam por desprezo, mas por fidelidade ao evangelho. Essa tradição reformada que herdamos — colocar Cristo no centro e refusar mediadores terrenos — é herança que devemos reafirmar, proteger e propagar, passando as próximas gerações.


Sintetizando: Uma Verdade Que Persiste

Voltemos, por um momento, àquela cena de Éfeso no ano 431 d.C. onde os bispos se dispersaram, Nestório foi condenado, mas a verdade que eles debatiam (aquela verdade sobre a unidade de Cristo) persiste. Quase dois mil anos depois do concilio de Niceia, essa verdade ainda é central, ainda é contestada, ainda é incomparavelmente importante.

Para nós, pentecostais assembleianos, o legado daquele concílio é claro: devemos defender a completude de Cristo com toda nossa energia, mas fazê-lo enraizados na Escritura, não em tradições posteriores que comprometam a clareza do evangelho.

Maria foi verdadeiramente abençoada, abençoada por dar à luz aquele que é "Deus conosco", todavia, o foco de nossa fé, nossa adoração, nossa esperança é exclusivamente naquele que nasceu dela: Jesus Cristo, Senhor, Salvador, plenamente Deus e plenamente homem.

É por isso que quando Tomé viu o Cristo ressuscitado, sua confissão se tornou a nossa: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo.20.28). Não era confissão dividida, não era mediada por outro, era verdadeira confissão direta, simples, cristocêntrica que nos aponta para a correta compreensão bíblica do mistério da doutrina da hipóstase (um homem, duas naturezas: 100% Deus e ao mesmo tempo 100% homem).

E essa é a confissão que, como pentecostais assembleianos, continuamos fazendo, cinco séculos após Reforma, dezessete séculos após Éfeso. Porque a verdade sobre Cristo não envelhecida, persiste, transforma, redime e garante a plena eficácia do sacrifício perfeito do segundo Adão.

Que nossa fé, portanto, seja sempre ancorada naquilo que a Bíblia nos apresenta com clareza: Cristo, o plenamente Deus e plenamente homem, nosso único Mediador, nossas única Esperança, nosso Senhor de todas as coisas.


Referências Bibliográficas Sugeridas:

ATHANASIUS. On the Incarnation. Tradução de John Behr. Crestwood: St. Vladimir's Seminary Press, 2011.

GRILLMEIER, Aloys. Christ in Christian Tradition: From the Apostolic Age to Chalcedon (451). Volume 1. Louisville: Westminster John Knox Press, 1975.

McGUCKIN, John Anthony. Saint Cyril of Alexandria and the Christological Controversy. Crestwood: St. Vladimir's Seminary Press, 1994.

PELIKAN, Jaroslav. The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine. Volume 1: The Emergence of the Catholic Tradition (100–600). Chicago: University of Chicago Press, 1971.

SCHAFF, Philip. History of the Christian Church. Volume III: Nicene and Post-Nicene Christianity. New York: Charles Scribner's Sons, 1884. (Disponível online em versão digital)

WILLIAMS, Rowan. Arius: Heresy and Tradition. Grand Rapids: Eerdmans, 2002.

DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

HORTON, Stanley M. (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.


*O conteúdo e opinião expressas são de inteira responsabilidade de seu autor.
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