1Co 13:1-3
INTRODUÇÃO
Qual é o real propósito dos dons espirituais? Você,
professor, tem uma visão bíblica e teológica a respeito do objetivo dos dons?
Muitos estão se utilizando dos dons de forma interesseira e egoísta. As dádivas
divinas nos são concedidas pela graça e devem ser utilizadas com sabedoria e
santidade a fim de que o nome do Senhor seja exaltado e todos os membros do
Corpo de Cristo sejam edificados. Os dons não são para elitizar o crente.
Também não são sinal de superioridade espiritual. Nesta lição estudaremos o
verdadeiro propósito dos dons espirituais concedidos por Deus à sua Igreja. Os
dons do Espírito Santo são recursos imprescindíveis do Pai para os seus filhos.
O seu propósito é edificar-nos e unir-nos, fortalecendo assim a Igreja de
Cristo (1Tm 3.15).
I. OS
DONS NÃO SÃO PARA ELITIZAR O CRENTE
- A
igreja coríntia. A Igreja em Corinto localizava-se numa cidade comercial e
próxima do mar, sendo uma das mais importantes do Império Romano. Corinto
era uma cidade economicamente rica, porém marcada pelo culto idolátrico.
Durante a segunda viagem missionária de Paulo, a igreja recebeu a visita
do apóstolo (At 18.1-18). Por conhecer muito bem a comunidade cristã em
Corinto foi que o apóstolo dos gentios tratou, em sua Primeira Epístola
dirigida àquela igreja, sobre a abundância da manifestação dos dons do
Espírito, chegando a afirmar daquela igreja que “nenhum dom” lhe faltava
(1Co 1.7).
- Uma
igreja de muitos dons, mas carnal. Os dons do Espírito concedidos por Deus
à igreja de Corinto tinham por finalidade prepará-la e santificá-la para o
serviço do evangelho: a proclamação da Palavra de Deus naquela cidade.
Todavia, além de aquela igreja não usar corretamente os dons que recebera
do Pai, tinha em seu meio divisões, inveja, imoralidade sexual, etc. Como
pode uma igreja evidentemente cristã ser ao mesmo tempo carnal e imoral?
Por isso Paulo a chama de carnal e imatura (1Co 3.1,3). Com este relato,
aprendemos que as manifestações espirituais na igreja local não são
propriamente indicadoras de seriedade, espiritualidade e santidade. Uma
igreja onde predominam a inveja, contenda e dissensões, nem de longe pode
ser chamada de espiritual, e sim de carnal.
- Dom
não é sinal de superioridade espiritual. Muitos creem erroneamente que os
irmãos agraciados com dons da parte de Deus são, por isso, mais
espirituais que os outros. Todavia, os dons do Espírito são concedidos
pela graça de Deus. Por ser resultado da graça divina, não recebemos tais
dons por méritos próprios, mas pela bondade e misericórdia de Deus. Que a
mensagem de Jesus possa ressoar em nossa consciência e convencer-nos de
uma vez por todas de que os dons não são garantia de espiritualidade
genuína: “Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos
nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome,
não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos
conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7.22,23).
II.
EDIFICANDO A SI MESMO E AOS OUTROS
- Edificando
a si mesmo. Paulo diz que quem “fala língua estranha edifica-se a si
mesmo” (1Co 14.4). O apóstolo estimulava os crentes da igreja de Corinto a
cultivarem sua devoção particular a Deus através do falar em línguas
concedidas pelo Espírito, com o objetivo de edificarem a si mesmos. Isto
não significa que o apóstolo dos gentios proibia o falar em línguas
publicamente, mas ao fazê-lo de maneira devocional o crente batizado com o
Espírito Santo edifica-se no seu relacionamento com Deus. Falar ou orar em
línguas provenientes do Espírito é uma bênção espiritual maravilhosa.
- Edificando
os outros. Os crentes de Corinto falavam em línguas e exerciam vários dons
espirituais, mas parece que eles não se preocupavam muito em ajudar as
pessoas. Por isso, o apóstolo lembra que os dons só têm razão de existir
quando o portador se preocupa com a edificação da vida do outro irmão em
Cristo (1Co 14.12). Em lugar de buscarmos prosperidade material, como se
pudéssemos barganhar com Deus usando dinheiro em troca de bênçãos,
busquemos os dons espirituais. Agindo assim edificaremos a nós mesmos e
também aos outros.
- Edificando
até o não crente. Embora o apóstolo dos gentios estimulasse todos os
crentes a falarem em línguas, isto é, a edificarem a si mesmos, seu desejo
era que também esses mesmos crentes profetizassem a fim de que a igreja
toda fosse edificada. O comentário da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal
diz sobre esse texto: “Embora o próprio Paulo falasse em línguas,
enfatizava a profecia, porque esta edificava a Igreja inteira, enquanto
falarem línguas beneficiava principalmente o falante”. Todos quantos
vierem a frequentar nossas reuniões devem ser edificados, sejam crentes ou
não. Por isso, não podemos escandalizar aqueles que não comungam a mesma
fé que nós (1Co 14.23). Como eles compreenderão a mensagem do evangelho se
em uma reunião não entenderem o que está sendo falado? (1Co 14.9).
III.
EDIFICAR TODO O CORPO DE CRISTO
- Os
dons na igreja. Na Primeira Carta aos Coríntios, Paulo dedica dois
capítulos (12 e 14) para falar a respeito do uso dos dons na igreja. O
apóstolo mostra que quando os dons são utilizados com amor, todo o Corpo
de Cristo é edificado. Conforme diz Thomas Hoover, parafraseando Paulo em
Efésios 4.16, “os membros do corpo, cada qual com sua própria função
concedida pelo Espírito, cooperam para o bem de todas. O amor é essencial
para os dons espirituais alcançarem seu propósito”. Se não houver amor,
certamente não haverá edificação (1Co 13). Sem o amor de Deus nos tornamos
egoístas e acabamos por colocar nossos interesses em primeiro lugar. O
propósito dos dons, que é edificar o Corpo de Cristo, só pode ser cumprido
se tivermos o amor de Deus em nossa vida.
- A
primeira relação dos dons com a repetição do fato que cada um é dado pelo
Espírito (1 Co 12.8-10) leva ao clímax no versículo 11, que diz: ‘Mas um
só e o mesmo Espírito opera todas as coisas, repartindo particularmente
[individualmente] como quer’. Aqui temos um paralelo com Hebreus 2.4, que
fala dos apóstolos que primeiramente ouviram o Senhor e depois
transmitiram a mensagem: ‘Testificando também Deus com eles, por sinais
[sobrenaturais], e milagres, e várias maravilhas [tipos de obras de grande
poder] e dons [distribuições separadas] do Espírito Santo, distribuídos
por sua vontade’. É evidente, à luz destes trechos, que o Espírito Santo é
soberano ao outorgar os dons. São distribuídos segundo a sua vontade.
Buscamos os melhores dons, mas Ele é o único que sabe o que é realmente
melhor em qualquer situação. Fica evidente, também, que os dons permanecem
debaixo de sua autoridade. Nunca são nossos no sentido de não precisarmos
do Espírito Santo, pela fé, para cada expressão desses dons. Nunca se
tornam parte da nossa própria natureza, ao ponto de não os perder, de
serem tirados de nós. A Bíblia diz que os dons e a vocação de Deus são
permanentes (Deus não muda de opinião a respeito deles), mas aqui há
referência a Israel (Rm 11.28,29)” (HORTON, Stanley M. A Doutrina do
Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2012, p. 230).
CONCLUSÃO:
A igreja de Jesus Cristo tem uma missão a cumprir:
proclamar o evangelho em um mundo hostil às verdades de Cristo e descrente de
Deus. Diante desta tão sublime tarefa, a igreja necessita do poder divino. Os
dons espirituais são um “arsenal” à disposição do corpo de Cristo para o
cumprimento eficaz de sua missão na terra. Como já foi dito, o propósito dos
dons é edificar toda a igreja, todo Corpo de Cristo para ser abençoado,
exortado e consolado. Por isso, nunca devemos usar os santos dons de Deus em
benefício particular, como se fosse algo exclusivo de certas pessoas. Somos
chamados a servir a Igreja do Senhor, e não a utilizar os dons de Deus para nós
mesmos.
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