Brasileiros de todas as faixas de renda estão trocando comida fresca por produtos industrializados e, com isso, piorando a qualidade de sua alimentação básica. Ingredientes típicos do cardápio nacional, o feijão e o arroz são comprados em quantidades cada vez menores, enquanto o consumo per capita de açúcar -embutido em refrigerantes, massas prontas etc.- excede o nível nutricional recomendado. É o que mostram as pesquisas divulgadas ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a quantidade e a qualidade dos alimentos comprados para consumo em casa.
No caso do arroz polido, por exemplo, a queda no consumo per capita foi de 40,5% de 2003 a 2009. No do feijão, de 26,4%. Com isso, esses alimentos passaram a responder por apenas 16,2% e 5,4% das calorias ingeridas nos lares do país, ante 17,4% e 6,6% na pesquisa anterior. Já comidas processadas, como pães, embutidos, biscoitos, refrigerantes e refeições prontas e semiprontas ganharam importância e, juntos, já respondem por 18,4% da energia disponível.
Açúcar
Os estudos revelam também o consumo excessivo de açúcar, que pode contribuir para o desenvolvimento de obesidade, diabetes e câncer. Hoje, do total de calorias presentes na despensa dos brasileiros, 16,4% vêm dos chamados açúcares livres, que são aqueles adicionados aos alimentos no seu processamento ou no momento do consumo. A recomendação nutricional é que essa parcela não ultrapasse os 10%.
A presença do açúcar refinado nos carrinhos, porém, tem diminuído- em 2009, um brasileiro comprava em média 3,2 kg do produto por ano, quase a metade dos 6,1 kg registrados em 2003.
Isso significa que as pessoas estão consumindo mais alimentos que já têm açúcar na sua formulação. "Caiu a quantidade de açúcar de mesa, não o açúcar da dieta. As pessoas não adoçam mais suco em casa, compram já adoçado'', diz Renata Levy, pesquisadora em medicina preventiva da USP.
Semiprontos
Apontados como vilões da alimentação saudável pelo excesso de sal, açúcar e gordura, os alimentos semiprontos aumentaram sua presença entre as faixas de renda mais baixas. Segundo o IBGE, a compra desses produtos pelos 20% mais pobres cresceu 67% entre 2003 e 2009. Entre os 20% mais ricos, a alta foi de 21%. Mas esses consomem 5,6 kg a mais que os primeiros.
Para realizar a pesquisa, o IBGE pediu a todas as famílias visitadas pela POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) que anotassem os alimentos e bebidas comprados em uma semana. O instituto passou as quantidades para quilos e estimou o total de um ano.
Além do excesso de açúcar, os resultados mostram um consumo de frutas, legumes e verduras abaixo do ideal - juntos, esses alimentos responderam por apenas 2,8% das calorias disponíveis, bem abaixo dos 9% a 12% recomendados.
O consumo de gorduras ficou dentro do indicado na média nacional, mas superou o limite de 30% nas faixas de renda mais altas. Nesses segmentos, nota-se uma substituição dos carboidratos complexos (com fibras) por gorduras.
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